Todo portador do HIV tem aids?
Não. Um portador do HIV passa a ser considerado doente de aids quando
apresenta a deterioração do sistema imunológico. O vírus da
imunodeficiência humana (HIV) ataca os linfócitos CD4, que produzem
anticorpos. "Se essas células ficam abaixo de 200 unidades por milímetro
cúbico de sangue, o risco de desenvolver doenças oportunistas, como
herpes, tuberculose e pneumonia, cresce muito", informa o médico
infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio
Ribas, em São Paulo. Os que não têm sintomas nem sinal da doença são
chamados soropositivos e podem transmitir o vírus. Uma pessoa com
aparência saudável pode estar infectada e talvez nem saiba.
Os sintomas começam a aparecer quanto tempo após o contágio?
Depende da saúde do portador. Segundo o infectologista, as doenças
oportunistas demoram, em média, de cinco a dez anos para se manifestar.
Durante esse período, a pessoa pode ficar assintomática. Os sintomas
iniciais podem ser leves (febre, diarreia, cansaço, aumento dos gânglios
linfáticos) ou severos (pneumonias graves, diarreia persistente,
emagrecimento intenso, placas de candidíase na língua e na boca,
alterações no sistema nervoso).
Como é feito o diagnóstico?
Por meio do exame convencional (Elisa) ou do teste rápido em uma gota
de sangue. As duas metodologias permitem detectar a presença de
anticorpos contra o vírus HIV. Se der positivo ou reagente, é feito
outro teste para confirmar o resultado, o Western Blot, que procura
fragmentos do HIV, ou o PCR, que localiza material genético do vírus. O
exame é solicitado na gravidez e pode ser realizado nos postos de saúde
por qualquer pessoa que desconfie de exposição ao vírus (não usou
camisinha no sexo com alguém que use drogas, por exemplo).
Se der negativo, posso respirar aliviada?
Nem sempre. Pode ser um falso negativo. Os testes aplicados dosam
anticorpos contra o vírus. Se o contato for recente, você pode estar no
que os especialistas chamam de janela imunológica, período em que a
produção de anticorpos contra o HIV é insuficiente para ser detectada.
Jean Gorinchteyn recomenda repetir o teste após quinze dias, três meses,
seis meses e um ano.
Vale a pena iniciar o tratamento assim que o exame der positivo?
O Ministério da Saúde abriu essa possibilidade. Até o ano passado, a
terapia antirretroviral só era iniciada quando a contagem de CD4
estivesse abaixo de 500 ou o portador tivesse a partir de 55 anos de
idade. O tratamento foi antecipado com o objetivo de reduzir a
quantidade de vírus em circulação, para evitar a queda na resistência e o
aparecimento de doenças oportunistas, e também diminuir as chances de
transmitir o HIV a outras pessoas. Mas os remédios têm efeitos
colaterais, como lipodistrofia (alteração na distribuição de gordura:
ela some do rosto e se concentra na barriga) e aumento do colesterol e
dos triglicérides, além de náuseas, vômitos e diarreias nas primeiras
semanas de uso. "Alguns não toleram esses efeitos e abandonam a
medicação. Com isso, o vírus pode se tornar resistente aos remédios",
alerta o infectologista.
Os novos coquetéis de drogas fizeram da aids uma doença crônica como hipertensão?
Os 21 antirretrovirais disponíveis na rede pública não matam o vírus.
Mesmo que a carga viral fique indetectável, isto é, não haja mais
indício do HIV no sangue, ele pode ter se escondido no cérebro, nos
gânglios e em outros locais a salvo do nosso sistema de defesa e voltar a
atacar, daí a necessidade de usar a medicação por toda a vida, informa
Jean Gorinchteyn. Apesar da possibilidade de manter o HIV sob controle, o
infectologista diz que não dá para comparar essa infecção a outras
doenças crônicas porque ela exige cuidados no sexo e na hora de ter
filhos e os portadores sofrem preconceitos.
Como se prevenir?
Atualmente a principal via de transmissão é sexual, portanto o maior
cuidado é usar preservativo nas relações homo e heterossexuais: "Não
apenas para a penetração do pênis na vagina ou do pênis no ânus, mas
antes de qualquer contato com mucosa, sêmen e secreção vaginal,
inclusive no sexo oral", recomenda Iracema Teixeira. Outros cuidados
importantes: não compartilhar seringas, agulhas e objetos cortantes e
escolher com o máximo de critério dentistas, manicures e locais para a
realização de tatuagem.
Se não houver contato com o sêmen, não há perigo?
Que nada! O coito interrompido não é seguro. Antes de ejacular, o homem
libera um líquido para lubrificar a uretra. Assim como espermatozoides,
ele também pode carregar o vírus. Portanto, é preciso vestir a
camisinha tão logo o pênis fique ereto.
Sexo oral é seguro?
Só se for feito com barreira, isto é, camisinha no pênis e genitais
femininos recobertos com filme de PVC (de embalar alimentos) ou
preservativo cortado na longitudinal. "O risco de transmissão é maior no
sexo anal porque o ânus não tem lubrificação, é menos elástico que a
vagina e possui muitos vasos sanguíneos, então na penetração podem
ocorrer pequenas lesões, que servem de porta de entrada ao vírus",
esclarece a orientadora sexual.
Como saber se a camisinha é confiável?
Veja se está dentro do prazo de validade e se tem a certificação do
Inmetro. "As fluorescentes e com sabor devem ser usadas apenas como
parte da brincadeira", orienta Iracema Teixeira. "Na hora agá, prefira
uma certificada. Preservativos não testados podem ter microperfurações,
por onde o vírus passa." Não guarde em locais expostos ao sol, como
porta-luvas. Não abra a embalagem com os dentes e desenrole com cuidado,
segurando na ponta para deixar uma folga para o ar.
E se deu zebra e o preservativo rompeu?
As chances de contrair o vírus dependem de vários fatores, dentre eles
seu estado de saúde e a quantidade de vírus em circulação no portador.
Mas não conte com a sorte. Procure um posto de saúde em até 72 horas e
comunique o ocorrido. A profilaxia após a exposição consiste no emprego
de antirretrovirais para reduzir as chances de se infectar.
Fonte: Site Editora Abril
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